Escotismo é alternativa de escape ao uso de telas na infância
Grupo Georg Black, o mais antigo em atividade no Brasil, tem sede em Porto Alegre e promove socialização e autonomia entre crianças de diferentes idades

A tecnologia tem sido utilizada por crianças com mais frequência e cada vez mais cedo. De acordo com uma análise do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), o número de usuários de internet na faixa de 6 a 8 anos aumentou de 41% para 82% entre 2015 e 2024. A inserção intensa e precoce no ambiente digital transformou as formas de lazer na infância, levando os pais ao desafio de reduzir a dependência das telas.
Fernanda Marques, mestre em psicologia pela UFRGS, cita os efeitos que o uso excessivo da tecnologia pode causar:
“Há estímulo visual, há estímulo sonoro, às vezes são sons muito altos, imagens muito coloridas ou que são veiculadas muito rapidamente, com muita velocidade. Isso pode gerar uma sobrecarga para um sistema cerebral e psíquico que ainda está se formando. Tem vários estudos mostrando associações entre o maior uso de telas e prejuízos na atenção, na linguagem, na autorregulação, no sono, na própria questão de obesidade, sedentarismo também.”
Com atividades e princípios que prezam pelo trabalho em equipe e pelo contato com a natureza, o Movimento Escoteiro aparece como uma alternativa de escape ao uso da tecnologia. Tatiana Foscarini, chefe da Alcatéia do Grupo Escoteiro Georg Black, menciona a importância do contato das experiências ao ar livre para as crianças: “Isso vai trazendo aquela vontade de cada vez fazer mais, de sair daquele mundinho pequeno e eles percebem que existe um mundo bem maior, que aqui tem um mundo bem maior para eles conquistarem”.
A psicóloga Fernanda reafirma a relevância dessas atividades para o desenvolvimento infantil, principalmente em grandes cidades como Porto Alegre.
“O que o movimento escoteiro propicia são coisas muito importantes para eles vivenciarem nessa faixa etária dos seis aos dez anos. Tem a questão das regras, do pensar no grupo, do convívio, das interações, de conseguir solucionar problemas práticos. Essa autonomia e essa questão do contato com a natureza, que é algo cada vez mais raro, principalmente nas grandes cidades.”
Sediado na Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), o Georg Black atua desde 1913 proporcionando, através da educação não-formal, um espaço seguro para o desenvolvimento infantil e a socialização. Entre os mais novos, o uso de telas é proibido durante os encontros, em uma proposta que busca incentivar a moderação e aproximá-los tanto uns dos outros quanto do ambiente.
“A gente procura trabalhar muito a questão do trabalho em equipe, de como desenvolver isso. Porque, na questão do celular, das telas, dos jogos, tu convive com outras pessoas, mas que tu não enxerga. Elas estão do outro lado da tela e tu não sabe nem como elas são. Aqui não, aqui eles vão conviver e vão trabalhar junto com essas pessoas”, complementa Tatiana.
As atividades escoteiras, que vão de acampamentos a campanhas de arrecadação, acontecem todos os sábados e estimulam a autonomia das crianças e o convívio respeitoso. O grupo recebe integrantes entre 6,5 e 22 anos – divididos em lobinhos, escoteiros, sênior e pioneiros, de acordo com a idade.
